Fibromialgia: conheça a doença que provoca dores pelo corpo
Fibromialgia: conheça a doença que provoca dores pelo corpo
João Freitas
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra |EPE
A Fibromialgia (FM) é uma síndrome dolorosa crónica, que se manifesta no sistema músculo-esquelético e apresenta repercussões graves ao nível cognitivo, emocional, físico e social com impacto negativo na qualidade de vida das pessoas. Esta é uma das várias definições que se podem encontrar na literatura, estando no entanto os diferentes autores em consonância, relativamente à sua apresentação.
Apesar do fenótipo de apresentação da FM ser diverso, existe, contudo, um conjunto de sintomas comuns a todos os doentes. De facto, chegam-nos de todas as partes do mundo, vozes que falam a mesma linguagem, transmitem as mesmas dificuldades e reproduzem um mesmo conceito de dor. No entanto, a verdade é que esta síndrome continua a ser um desafio para todos aqueles que a investigam e as lacunas persistem ao longo dos anos.
Trata-se de uma síndrome que levanta ainda muitas dúvidas, nomeadamente ao nível da etiopatogenia, genética e farmacologia e, por isso, é um tema de interesse para os investigadores. Também na comunidade médica a FM não é um tópico neutro e tem vindo a apresentar uma enorme importância na atualidade, sendo um dos principais temas debatidos em congressos de reumatologia, quer nos EUA quer na Europa.
Nas últimas décadas, a FM transformou-se de uma vaga condição num diagnóstico aceite e reconhecido pela Organização Mundial da Saúde. Contudo, muitos médicos não se sentem adequadamente preparados para abordar a complexa panóplia de aspetos inerentes a esta síndrome. Efetivamente, representa um verdadeiro exercício de diagnóstico e, não raras vezes, de paciência tratar um doente que se apresenta na consulta, quase sempre, com dores por todo o corpo e com um elevado grau de insatisfação relativamente à terapêutica. Perante este quadro o médico deve estar preparado para explicar ao doente, em termos simples mas sem faltar à verdade, em que consiste a afeção, como se trata e de que forma pode condicionar o futuro de quem dela sofre.
Cada vez com maior frequência, os doentes pretendem saber mais sobre a sua condição, o que não pode deixar de ser louvado, considerando que é hoje sabido que os indivíduos conhecedores da sua doença, enfrentam-na de forma mais apropriada, convivem melhor com os seus sintomas, consomem menos recursos de saúde e têm melhor qualidade de vida e melhor prognóstico. Por tudo isto é importante que o médico durante a consulta consiga esclarecer todas as dúvidas e motive o doente, de modo a que este abandone a habitual postura passiva e adote estratégias de coping, ou seja, que assuma a responsabilidade de uma parte considerável do seu tratamento, nomeadamente no que concerne ao desenvolvimento da sua capacidade de lidar com a afeção e a ser o gestor de aspetos como o exercício e a prática de hábitos de saúde.
O facto de não existir nenhum exame analítico ou radiológico que confirme a existência desta patologia contribui para que a mesma seja, muitas vezes, descredibilizada não só pelos familiares, mas também pelos colegas de trabalho, chefes e, por vezes, mesmo por alguns médicos. Por isso, é um fator de enorme alívio para o doente ver validados os seu sintomas, ver que o médico não desvaloriza as suas queixas e compreende a sua intensidade e a incapacidade que daí advém. Assim, para a manutenção de uma boa relação médico-doente o primeiro passo é acreditar nas queixas do doente, explicar-lhe a sua doença e ensiná-lo a lidar com a situação. É também necessário informá-lo de que ainda que a FM melhore parcialmente com um tratamento adequado, tem um curso crónico com exacerbações e a remissão completa e sustida é muito rara.
É muito importante que quem trata doentes com FM se sinta confortável com este tipo de doentes e com a existência de dor crónica. Caso contrário, deve referenciá-los a médicos com maior experiência e interesse por esta patologia, nomeadamente os Reumatologistas. Estes doentes devem ser ajudados de forma compreensiva e afável mas firme e orientadora e, apesar do “incómodo” que causam, não devem encontrar “portas fechadas”.
Referências
Branco, JC., Cardoso, A., Costa, MM., & Silva, JA. 2005, Regras de Ouro em Reumatologia, Direcção Geral da Saúde, Lisboa, pp. 39-48.
D.G.S., 2005, Fibromialgia – Circular Informativa nº45/DGCG
Neves, J., Dissert. Fibromialgia. 2008
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